Sempre arrastando multidões, o festival de arte eletrônica mais conhecido de São Paulo invade novamente o Centro Cultural Fiesp, na Avenida Paulista. A partir desta quarta-feira (5), oFestival Internacional de Linguagem Eletrônica(File), que é realizado desde 2000, promove o que há de mais novo em poesias e estética da arte eletrônica no mundo, apresentando obras artísticas - muitas delas interativas - e que discutem o mundo real e tecnológico.
Para este ano, a curadoria escolheu discutir a interação entre as inteligências artificialehumana. Chamado de Singularidades Interativas, o tema é uma referência à hipótese de que a interação entre as inteligências artificiale humana levaria ao desenvolvimento de uma consciência simulada em que o “eu artificial” dialogaria com o “eu natural”.
“Hoje percebemos que muitas pessoas temem que a inteligência artificial tome conta do mundo. Mas, na verdade, o que a inteligência artificial precisa é de trabalhar junto com o ser humano. E quando essas duas forças cognitivas trabalham juntas, o poder de evolução e de produção aumenta muito. Então, aqui na exposição, temos algumas obras que já fazem uso de inteligência artificial. O artista cria esse sistema na máquina, mas é a interação do espectador que vai dar o conteúdo para essa obra”,disse Paula Perissinotto, cofundadora,curadora eorganizadora do File,em entrevista àAgência Brasil.
“A inteligência artificial tem maior capacidade de processamento de dados e de organizar informações de um modo muito mais amplo que os humanos. Mas, por outro lado, ela não é regada de emoção, de criatividade e de sensibilidade. Então, quando se conectam essas duas coisas é que acontece a potência dessa relação”, afirmou Paula.
A File São Paulo 2023 apresenta obras produzidas por artistas de 39 países.Entre elas, a que abre a exposição e foi instalada do lado de fora do Centro Cultural, em plena Avenida Paulista: uma imensa cachoeira, com luzes de led. Chamada deLight Falls, a obra é do brasileiro Vigas. Com cincometros de altura, o trabalhopropõe uma reflexão sobre a importância da água e da preservação da natureza.
“Geralmente, em meu trabalho, abordo questões relacionadas à natureza”, disse o artista. “Esta é uma instalação de grande porte, em formato de cachoeira, feita com leds digitais e tubos translúcidos. Ela evoca uma homenagem a um dos maiores bens da natureza, que é a água. Eu trago para a cidade a água em um dos seus formatos mais poderosos, a cachoeira. Em princípio ela atrai pela beleza, mas seu conceito pretende chamar a atenção para mantermos esse bem tão precioso e como ele está sendo tratado por nós".
Nesta edição,o festival será realizado no subsolo do Centro Cultural Fiesp e está um pouco menor do que nos anos anteriores, mas trazendo obras que vão impressionar o público, comoaEmpreintes Sonores,da dupla canadenseVictor Drouin-Trempe (V.ICTOR) e Jean-Philippe Côté (Djip.Co).Nessa obra, o público poderá interagir de duas formas: falando alguma coisa próximo de um microfoneparaque uma assistente digital capte,graveos sons que foram emitidose materialize-os visualmente;ou então se movimentando em frenteàobra.
“Basicamente, com essa instalação, tentamos reverter anossarelaçãousual como som.Geralmente, o som vemem nossa direção. Ele se movimenta no ar [direto] e chega em nossos ouvidos enquanto estamos parados. Nesse caso [da obra], o som está congelado no ar e precisamos nos mover para explorá-lo”, explicouJean-Philippe CôtéàAgência Brasil.
SegundoVictor Drouin-Trempe, esta é a primeira vez que eles trabalham em colaboração. Também é a primeira vez que participamdessefestivalno Brasil. “Esta é a nossa primeira vez no File, mas já mostramosessa obra em diferentes festivais e vimos como as pessoas interagem com ela. É muito divertido veressa interaçãoe as diferentes interpretações queas pessoas dão aesse equipamento que idealizamos”, completou.
Outra obra que deve chamar a atenção do público é a instalação interativaExpanded Iris, da brasileira Anaisa Franco, que convida o público a olhar por um dispositivo que a artista chama de iriscópio espacial. O instrumento escaneia a íris da pessoa e projeta a sua imagem misturada a galáxias e nebulosas. “Essa é uma obra em que a artista propõe a captura da íris e, a partir dessa imagem, cria uma relação de fusão com imagens de galáxias, que simulam a íris. Essa fusão imagética cria uma relação contemplativa”, explicou a curadora.
Já na obraCaptured,da finlandesa Hanna Haaslahti, o rosto do visitante é capturado para criar um avatar digital. Esse visitante então passaráa fazer parte de um cenário coletivo no mundo virtual. “São interações que não exigem do espectador manipular ou mexer. Basta entrar em frente a uma câmera para seu rosto ser captado e vocêpoderáfazer parte de um sistema, onde um grupo de pessoas começa a se relacionar. E todas essas questões inerentes à relação humana surgem nesse meio virtual”, dissePaula.
Além das obras dentro do Centro Cultural, o festival deste ano promove uma série de imagens de realidade aumentada,que sãoacionadas por meio de QRCode, dentro da estação de metrô Trianon-Masp.
Do lado de fora, oedifício do Centro Cultural Fiesp servirá de palco de exibições, com projeções de led que vão acontecer diariamente, enquanto durar o festival. Essa intervenção no prédio da Fiesp poderá ser vista por qualquer pessoa que circular pela Avenida Paulista à noite.Parte desses trabalhos fazparte da sérieCotidianos Imperceptíveis, resultado de uma parceria do festival com o curso de Artes Visuais, do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), da Universidade de São Paulo.
Com a proposta de difundir a tecnologia como linguagem criativa e o processo de desenvolvimento artístico,haverá também oficinas no mezanino do Centro Cultural Fiesp de hoje até sexta-feira (7). As atividades são gratuitas e, para participar, é necessário se inscrever no sitedo evento .
O festival de arte eletrônica tem entrada gratuita e fica em cartaz até o dia 27 de agosto. Mais informações sobre oFilepodem ser obtidas aqui .
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