O primeiro dia de desfile das escolas de samba, na noite de sexta-feira (23) e na madrugada de sábado (24), na Passarela Marcelo Sena, no Eixo Cultural Ibero-Americano, mostrou que as agremiações carnavalescas são capazes de apresentar um belo espetáculo da qualidade do samba-enredo às evoluções coreográficas na pista, passando pela potência das baterias, pela arquitetura e ornamentação de carros alegóricos e pelas passistas.
O evento contou com rápida presença da vice-governadora Celina Leão, além do secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, e da subsecretária de Difusão e Diversidade Cultural, Sol Montes. Estrela do carnaval carioca, a musa Viviane Araújo, bastante assediada pelos fãs, marcou presença como rainha do desfile ao lado do sambista Dudu Nobre, grande atração dos shows deste primeiro dia.
“Aqui é terra sagrada, onde as pessoas realizam as oportunidades. O Centro-Oeste está se firmando como polo importante do samba e do Carnaval”, saudou o cantor e compositor de sucessos como A Grande Família, Pega Legal e Vou Botar teu Nome na Macumba.
Frio com animação
Desfilaram quatro escolas do grupo de acesso (Coruja Serrana, de Sobradinho 2; Unidos de Vicente Pires; Unidos da Vila Paranoá; e Unidos do Varjão) e três do grupo especial (Unidos da Vila Planalto; Águia Imperial de Ceilândia; e a Unidos do Cruzeiro, a Aruc). Pelo regulamento, uma do grupo de acesso vai subir para o especial, que terá o descenso de uma das agremiações.
Nem o frio de 11ºC da madrugada foi suficiente para atrapalhar a festa, que contou com a animação de cada escola e, em alguns momentos, levantou o público de quase 2 mil pessoas nas arquibancadas. O carnavalesco Milton Cunha, que à frente da Escola de Carnaval capacitou pessoal da economia criativa depois de nove anos em que as escolas não desfilaram, foi o mestre de cerimônias e comandava a transmissão pelo canal do YouTubeCarnavalesco, dando informações sobre as escolas e as regiões administrativas de onde vêm.
O primeiro dia de desfiles serviu também para mostrar que as escolas de samba reforçam a identidade cultural das regiões administrativas. Membro da bateria da Coruja Serrana, na qual toca caixa, Thalles Ícaro, 26 anos, reforça essa característica. Ele está há dois anos na agremiação de Sobradinho II, mas também já tocou na Bola Preta, da mesma região administrativa.
Antes de a escola abrir o evento, às 20h, Thalles escondia um pouco do nervosismo da estreia, mas estava confiante na possibilidade de a Coruja subir para o grupo especial: “Se depender da gente, a chance de subir é 100%.”
Subir de categoria ou sofrer com o descenso depende da performance na pista aos olhos de 27 jurados, que trabalham com um coordenador e têm um suplente. Os quesitos que norteiam a decisão dos juízes observam bateria, samba-enredo, mestre sala e porta-bandeira, alegorias e adereços, enredo, fantasias e harmonia, conjunto e evolução e comissão de frente. O resultado será conhecido domingo (25). Sábado à noite outras sete escolas entram na avenida.
O gari Aldair José Dias, 50, morador de Planaltina, aproveitou um intervalo no trabalho de varrição do local e tirou várias fotos com o celular. “Eu gosto desses desfiles, estava sentindo falta”, disse.
Um dos destaques na passarela, a Unidos do Varjão homenageou Tim Maia e lembrou na última ala que o cantor carioca que levou o suíngue do soul e do funk para a MPB esteve cercado por outros mestres da MPB, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Cartola e outros.
Outros enredos cantados na avenida foramDo Marrocos ao Nordeste do Brasil(Coruja Serrana),Candomblé(Unidos de Vicente Pires) eZé Pilintra(Unidos da Vila Paranoá). Entre as escolas do grupo especial, os temas abordados foramLevanta, Sacode a Poeira e Dá a Volta por Cima(Aruc),África(Águia Imperial de Ceilândia) emagia da infância(Unidos da Vila Planalto).
O desfile das escolas de samba foi viabilizado com investimento de R$ 7 milhões da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). O frio, o trabalho contra o tempo feito dentro dos barracões das escolas e as dificuldades de mobilizar maior público pela coincidência com o período de festa juninas não foram adversários para o entusiasmo dos carnavalescos.
“É uma grande alegria retornar a esse palco depois de nove anos. Obrigado, Marcelo Sena”, bradou ao microfone o porta-voz da Água Imperial. Nas arquibancadas, gritos das torcidas e algumas lágrimas de emoção davam testemunho de que o desfile da primeira noite abriu alas para o futuro.
*Com informações da Secec
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