Antes de setembro de 2018, era comum ver os corredores do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, tomados por estudantes da rede pública ou privada. A visita fazia parte de um roteiro tradicional das escolas. Para meninas e meninos, era difícil não ficar impressionado ao ver de perto o maior meteorito já encontrado no país. Ou os fósseis de dinossauros e a coleção de múmias egípcias, que eram capazes de transportar os curiosos para aventuras distantes.
Um incêndio devastador, no entanto, trouxe perdas materiais irreparáveis, com 85% do acervo destruído, no dia 2 de setembro daquele ano. Além das perdas materiais, a tragédia também interrompeu as experiências educativas e lúdicas que ocorriam no local. Perdeu-se um espaço histórico que favorecia o conhecimento e atiçava a imaginação de crianças, adolescentes e até adultos.
“É interessante que os principais relatos que a gente ouve do público são no sentido de ter visitado o museu em algum momento com a escola. São memórias muito positivas. E é importante ressaltar que esse era o primeiro contato, mas havia um público bem grande que vinha de maneira mais espontânea, por ter uma relação antiga de amor com a instituição”, conta Igor Rodrigues, atual chefe da Seção de Assistência ao Ensino do museu.
No próximo dia 6 de junho, o Museu Nacional completa 205 anos de existência. Desde 2021, está em curso o processo de reconstrução do prédio e de reorganização do acervo . Este último, a partir de peças recuperadas e de outras obtidas por meio de doações. Paralelamente, projetos e atividades educativas continuam a ser tocados por aqueles que trabalham no museu.
“Temos agora uma oportunidade de reestruturar essa instituição e trazer mais dinamismo para ela. Que seja mais conectada com o século 21 e foque nessa relação com o público”, prevê Igor Rodrigues.
“Nós ampliamos o nosso portfólio de projetos. Temos, por exemplo, o projeto o Museu Nacional Vive nas Escolas, que faz visitas regulares em escolas sorteados. Temos um material didático que continua sendo desenvolvido há 70 anos, que é emprestado sem custo para os professores. E queremos que, em breve, possamos inaugurar exposições no museu reaberto, que tragam também essa dimensão educativa”.
O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, reforçou essa tradição pedagógica do museu e os planos para que a instituição amplie a capacidade de construir e divulgar conhecimento científico.
“A questão educativa do museu faz parte do nosso DNA desde o início. E as novas exposições estão sendo concebidas não apenas com o olhar do cientista e do divulgador, mas também com o olhar dos educadores. Precisam fazer sentido para esses profissionais que atuam na educação e dialogar com o interesse do público no geral”.
O museu foi criado no governo de D. João VI, em 6 de junho de 1818, quando o Rio de Janeiro era a capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Naquela época, o nome escolhido foi Museu Real.
O lugar foi planejado para abrigar coleções de interesse científico. Entre elas, o acervo da Casa de História Natural, que já existia desde 1784 e reunia produtos de mineralogia, artefatos indígenas e aves empalhadas.
Inicialmente, a sede do museu ficava no Campo de Santana, região central da cidade. Com a Proclamação da República, em 1889, passou a se chamar Museu Nacional.
Em 1892, o acervo e os pesquisadores foram transferidos para o Paço de São Cristóvão, prédio na Quinta da Boa Vista, que havia sido residência oficial da Família Real Portuguesa e da Família Imperial Brasileira até 1889.
O famoso antropólogo Roquette-Pinto foi diretor do museu de 1926 a 1935. Nesse período, a instituição passa a construir o caráter educativo pela qual ficaria conhecida. Para o antropólogo, o museu deveria ser a “universidade do povo”.
O edifício-sede foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1938, quando a instituição já possuía o maior acervo de história de ciência natural da América Latina. O museu passou a ser comandado, em 1946, pela então recém-criada Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A relação se mantém até hoje.
Um dos itens mais importantes do acervo era o fóssil humano batizado de Luzia. Achado em Lagoa Santa, Minas Gerais, em 1974, fazia parte da coleção de Antropologia. Luzia é considerada a habitante mais antiga das Américas.
Também se destacava o Bendegó, o maior meteorito encontrado no Brasil, com 5,36 toneladas. Originário de uma região do sistema solar entre os planetas Marte e Júpiter, ele tinha 4 bilhões de anos e foi achado no sertão da Bahia. Foi incorporado ao acervo do museu em 1888.
Uma outra coleção valiosa era a de múmias egípcias, compradas pelo então imperador Dom Pedro em 1826. Considerada a maior da América Latina, tinha múmias de adultos, crianças e também de animais, como gatos e crocodilos. A maioria das peças veio da região de Tebas, cidade do Antigo Egito.
Depois que as chamas cessaram, teve início um longo processo de recuperação do Museu Nacional. As primeiras obras emergenciais, para retiradas dos escombros e resgate do que sobrou do acervo, começaram no dia 26 de setembro de 2018. Em outubro, foi anunciado que partes do crânio e do fêmur de Luzia haviam sido encontrados.
No ano seguinte, mostras temporárias, com peças resgatadas ou não atingidas pelo fogo, foram montadas com o apoio de outras instituições, como o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e o Museu Casa da Moeda.
Em maio de 2019, foram apresentadas peças da coleção egípcia que puderam ser recuperadas. Em agosto, terminaram as obras emergenciais. No mesmo mês, o museu anunciou que conseguiu resgatar peças das coleções da Itália, Egito, Japão, Peru e Nova Zelândia.
Em setembro de 2020, foi anunciado resgate de 30% da Coleção Imperatriz Teresa Cristina, que reúne objetos produzidos entre os séculos VII a.C e III d.C em Pompéia, Herculano e Veio.
Em setembro de 2021, o Museu Nacional/UFRJ e Comitê Executivo do Projeto Museu Nacional Vive lançaram a Campanha para Recomposição de Coleções . Nos 13 meses seguintes, seriam mais de mil itens históricos e científicos doados . Entre eles, minerais, animais taxidermizados, fósseis, materiais arqueológicos, exemplares das culturas africanas e indígenas.
As obras de restauração das fachadas e dos telhados do Paço de São Cristóvão, que abrigava o museu, começaram em novembro 2021 . Pouco menos de um ano depois, em setembro de 2022, os trabalhos na fachada principal foram concluídos .
Para esse ano, estão previstos a entrega da reforma da Biblioteca Central e do Campus de Pesquisa e Ensino, assim como a conclusão do bloco 1. As obras em outros três blocos devem começar até o fim de 2023.
O cronograma coloca o período de 2024 até 2027 como o de conclusão das obras no interior, nos jardins, a montagem da exposição e, finalmente, a reabertura total do Museu Nacional. O custo total deve ficar próximo de R$ 450 milhões.
“Até abril de 2026, esperamos abrir parte do museu para a visitação. Estamos lutando para isso e vamos apresentar em breve uma nova proposta em relação a isso. Enquanto isso, convocamos o público para participar dessa reconstrução e acompanhar pelas mídias sociais todo o trabalho que está sendo feito”, disse o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner.
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