A sociedade civil, o governo e as plataformas digitais precisam determinar formas efetivas de combater a disseminação do discurso de ódio que tem fomentado a explosão de violência nas escolas. Esse foi o alerta dado por especialistas que participaram, nesta sexta-feira (5), de debate na Comissão de Educação (CE) sobre o PL 2.256/2019 , que estabelece diretrizes para garantir a segurança nas escolas.
Para a presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), Jade Beatriz, o poder público, incluindo as forças repressivas, precisam investigar articulações entre a onda de ataques recentes, que vitimaram alunos e professores, com a atuação de grupos neonazistas no submundo da internet.
— Não podemos desvincular a disseminação do discurso do ódio que tem havido nos últimos anos, com o resultado concreto que temos visto, que são grupos supremacistas articulados na internet e nas plataformas, ou nadeepweb, e organizam esses ataques. Além da vigilância na internet e nas redes sociais, é preciso ver que é um problema político também, como a onda de ataques e ameaças que houve em abril. Não são casos isolados, é preciso uma investigação mais profunda para detectar as ligações desses grupos que fazem ataques e ameaças, com grupos armamentistas e do que a sociedade convencionou chamar "gabinete do ódio" — disse Jade.
Tanto ela, como a senadora Teresa Leitão (PT-PE), que conduziu a audiência, disseram que são contra a presença de seguranças armados ou políticas de vigilância excessiva no ambiente escolar, por entenderem que este tipo de ação fere o caráter pedagógico e inclusivo que as escolas devem ter. Ambas defenderam o reforço de estratégias que valorizem a diversidade cultural e o combate ao racismo e à discriminação de grupos sociais, a exemplo de indígenas e LGBTI+, como estratégias mais eficazes para a cultura de paz nas escolas.
O secretário de Políticas Digitais da Presidência da República, João Caldeira Brant, alertou para a forma com que grupos neonazistas utilizam a internet na atração de jovens seguidores.
— O cenário é muito grave, porque a sociedade não se dá conta do impacto do ambiente de sociabilidade digital de crianças e adolescentes, o que é perpassado inclusive pelo modelo de negócio das plataformas. Há um reforço do ambiente de promoção da violência e do ódio na captura de subjetividades. A extrema direita organizada no Brasil, inclusive grupos neonazistas, tem usado dinâmicas quase lúdicas desse ambiente na atração de novos seguidores — afirmou.
A professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Catarina Santos disse que as políticas públicas também precisam reforçar a educação digital. Não só para os estudantes, mas para a sociedade como um todo.
— É preciso um processo de formação crítica para as mídias. Não só pelo controle do que chega às redes, mas pela formação crítica da sociedade para que não veicule, não compartilhe os absurdos que estão nas redes. Grande parte do pânico que houve em abril não tinha a ver com ameaças reais, mas com um projeto articulado de produção do pânico.
A representante do Ministério da Saúde, Kátia Barreto Souto, afirmou que o quadro atual de violência no ambiente escolar reflete a violência social que tem marcado o Brasil como um todo. Ela faz parte do grupo interministerial criado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para propor ações de enfrentamento à violência e promover a cultura da paz nas escolas.
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