A história do Hospital de Base (HB) se mistura com a de Brasília. Eles foram construídos simultaneamente, e o Base abriu as portas cinco meses depois da inauguração da cidade. Assim, em 12 de setembro de 1960, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e idealizado pelo presidente Juscelino Kubitschek, nascia o que hoje é um dos mais importantes hospitais do Brasil. Neste aniversário de 63 anos da capital federal, contamos um pouco da história daquele que foi pioneiro da saúde pública no Distrito Federal.
O projeto inicial tinha como objetivo criar “uma unidade de saúde revolucionária para o país” e um centro de referência na área, o que de fato aconteceu. Atualmente, o Base, maior centro hospitalar público do Centro-Oeste, com 64.696,67 metros quadrados de área construída, é modelo na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento de alta complexidade em politraumas, emergências e cirurgias cardiovasculares, transplantes, neurocirurgia, oncologia, oftalmologia, ortopedia e reumatologia.
“O hospital é um marco nessa cidade. É um gigante que realiza pesquisas, ensina e forma centenas de profissionais anualmente. Sempre digo para a minha família que, se eu tiver um acidente grave, me leve para o Base”Julival Ribeiro, diretor-geral do Hospital de Base
Em tantos anos de existência, o hospital garantiu a saúde de milhões de pessoas e conquistou o coração de milhares de profissionais que lá estão. O infectologista Julival Ribeiro, 69 anos, é um desses trabalhadores. O baiano chegou a Brasília, em 1980, segundo ele por escolha do destino. “Amo esse lugar, Deus me trouxe para Brasília e para trabalhar no Base”, declara.
Na cidade e nos corredores do Hospital de Base, o médico construiu quase toda a trajetória profissional. “Vim para o Base logo depois da morte de Tancredo Neves [referindo-se ao falecimento do ex-presidente, em abril de 1985], um momento muito triste. Me aposentei, voltei como voluntário e estou até hoje, à frente do setor de controle de infecção hospitalar”, relembra.
Nesses 38 anos diários no hospital, o infectologista chegou ao cargo de diretor-geral do HB e lembra de muitos acontecimentos que contribuíram para o desenvolvimento do centro de referência. “Me orgulho muito desse período. Criamos a Unidade Neurocardiovascular, específica para atender casos de AVC e infarto; reestruturamos o setor de trauma; integramos o Samu (Serviço Móvel de Urgência) e criamos nesse período o primeiro serviço oncológico do DF”.
Entusiasta do SUS e do Base, o médico acredita que o local cumpre muito bem o papel que cabe a ele. “O hospital é um marco nessa cidade. É um gigante que realiza pesquisas, ensina e forma centenas de profissionais anualmente. Sempre digo para a minha família que, se eu tiver um acidente grave, me leve para o Base”, pontua Julival.
O Hospital de Base recebe alunos de graduação em medicina, enfermagem e outros cursos da área de saúde, bem como profissionais graduados pleiteando vagas nos programas de residência médica e profissional. Atende, no campo de estágio, a vários convênios da Secretaria de Saúde com instituições de ensino superior e médio do DF.
“Realizamos em média de 10 mil a 12 mil atendimentos de trauma no último ano. Aqui definimos a vida de um paciente. É tudo muito incerto, podemos iniciar o plantão e não ter nenhum paciente em estado grave, como pode surgir um gravíssimo, e precisamos agir rapidamente. Devolver esse paciente com saúde para a família me encanta e dá ânimo para continuar”Renato Diniz Lins, chefe do Centro de Trauma do HB
Especialista em salvar vidas
Unidade referência para atendimento de casos complexos e graves, a missão diária dos profissionais que atuam no HB é salvar vidas. À frente do Centro de Trauma, o médico cirurgião Renato Diniz Lins, 43, entrou para fazer a residência médica no Base há 21 anos e nunca mais saiu.
“Muita coisa mudou de lá para cá, passamos por momentos piores e melhores, assim como a medicina evoluiu. O fato é que estamos aqui 24 horas preparados para atender os pacientes. Fazemos tudo o que é necessário para salvar uma vida, independentemente dos recursos que tivermos. O ano de 2019 foi a virada de chave do hospital, nos tornamos instituto, o que nos possibilitou ampliar o Centro de Trauma, contratar de maneira célere e o setor de raio-x, por exemplo, passou a funcionar 24h”, conta.
Em 2019, o hospital passou por uma ampla reforma administrativa. O HB começou a ser gerido pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF), que tem como finalidade desburocratizar a gestão da saúde.
Segundo o cirurgião, os traumas são a maior causa de mortes de adultos jovens atualmente no DF, e o setor relacionado a essa área é a principal especialidade do Base. “Realizamos em média de 10 mil a 12 mil atendimentos de trauma no último ano. Aqui definimos a vida de um paciente. É tudo muito incerto, podemos iniciar o plantão e não ter nenhum paciente em estado grave, como pode surgir um gravíssimo, e precisamos agir rapidamente. Devolver esse paciente com saúde para a família me encanta e dá ânimo para continuar”, declara Diniz.
“É um hospital de todos, e em um momento de gravidade, com ou sem dinheiro, se precisar, ele estará aqui para atender e salvar uma vida e o brasiliense sabe disso. Somos o único hospital público que capta órgãos para fazer transplantes e o único com pronto socorro 24h para transplantados. Estamos aqui para resolver o que nenhum outro hospital conseguir”Cristhiane Gico, chefe da Unidade de Nefrologia e Transplante
Um hospital de retaguarda
Filha e neta de candangos, a chefe da Unidade de Nefrologia e Transplante, Cristhiane Gico, 47 anos, tem uma relação afetiva com o Base. “Meu pai e meu avô ajudaram a construir Brasília e, hoje, fazer parte dessa instituição nessa cidade é muito importante. Há mais de 12 anos, entrei como residente e agora, gerencio a nefrologia. Estamos conseguindo implantar o primeiro programa de diálise não planejada em pacientes agudos, isso em um hospital público do DF, o que também é histórico. O Base transforma o médico e a gente se apaixona por ele” afirma.
Além da atuação diária, o HB é o hospital de retaguarda em todos os grandes eventos realizados na capital federal, preparado para receber grandes contingentes de pacientes, como nas festividades e em feriados, como o da Independência e o aniversário de Brasília, e até mesmo eventos mundiais, a exemplo da Copa do Mundo de 2014, no Brasil.
“Me lembro bem quando nos preparávamos para a Copa do Mundo, o Base era a principal retaguarda em Brasília, fizemos treinamento e conseguimos perceber, naquele momento, como o hospital é estratégico, pela localização, no centro da cidade, pelas especialidades que possui e a rápida capacidade de mobilização”, relembra a nefrologista.
Para a médica, o Base está no coração do brasiliense, que sabe da importância do hospital em casos graves. “É um hospital de todos, e em um momento de gravidade, com ou sem dinheiro, se precisar, ele estará aqui para atender e salvar uma vida e o brasiliense sabe disso. Somos o único hospital público que capta órgãos para fazer transplantes e o único com pronto socorro 24h para transplantados. Estamos aqui para resolver o que nenhum outro hospital conseguir”, finaliza Cristhiane Gico.
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