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Assassinato de Alexandre Vannucchi Leme foi primeiro revés da ditadura

Morte de estudante colocou em evidência ações de militares

30/03/2023 17h40
Por: Jornal Alternativa Fonte: Agência Brasil
© Agência Brasil/Fernando Frazão
© Agência Brasil/Fernando Frazão

No dia 30 de março de 1973, em um ato de rebeldia contra a ditadura militar, mais de três mil pessoas se reuniram em uma missa em homenagem ao estudante de geologia da Universidade de São Paulo (USP) Alexandre Vannucchi Leme. Ele tinha sido torturado e assassinado pelos militares semanas antes, no dia 17 de março de 1973, no Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), em São Paulo.

Historiadores consideram que o episódio representou um primeiro revés da ditadura, colocando os militares na defensiva diante da sociedade. Para negar a morte por tortura, eles sustentaram versões falsas. Primeiro, a de suicídio, e depois a de acidente para justificar a morte de Alexandre. O professor do Departamento de Jornalismo e Editoração da USP Camilo Vannucchi, primo de 2º grau de Alexandre, explica que a manifestação resultou em mais repressão:

“Tem uma contração importante, que várias pessoas da USP foram presas naquela semana, vários estudantes da USP que foram na missa foram presos, torturados a partir daquele dia, porque os seus rostos foram gravados. Para a repressão, aquilo também é colocado como uma questão de que 'olha, a gente passou da dose, dos limites'. Não era para o Alexandre ter morrido, não era um terrorista, um guerrilheiro, uma pessoa clandestina. Ele continuava indo às aulas, era muito querido na faculdade”.

Alexandre Vannucchi Leme vinha de uma família católica do interior de São Paulo. Apelidado de Minhoca, era um aluno exemplar e também bem-humorado, segundo colegas e amigos. Um dos colegas de faculdade, Adriano Diogo, lembrou algumas qualidades marcantes dele.

“Inteligência do interior, fazia aquelas piadas enormes, aquela gozação. Esse era o Minhoca, um cara magrinho, baixinho. Deram o apelido de Minhoca de tanto que ele vivia metido na terra. As pessoas podiam achar que, por causa que a pessoa morreu, foi assassinada, no caso, a gente sempre usa o aumentativo, uma coisa para dar um tom heroico. O Minhoca realmente era um cara muito diferenciado”.

Após ser encontrado no dia 16 de março de 1973 pelos militares, foi torturado por dois dias e não resistiu. Alexandre já se encontrava debilitado em função de uma recente cirurgia no apêndice. Conforme relatos da Comissão Nacional da Verdade, o então Major Carlos Alberto Brilhante Ustra se vangloriou desse assassinato, como lembra Adriano Diogo. “O Ustra assumiu a morte do Alexandre. Ele gritava no pátio, no sábado, 17 de março, que ele tinha mandado o Alexandre para a vanguarda popular celestial, quer dizer, tinha matado ele”.

Após a morte de Alexandre, teve início a busca dos familiares e amigos por justiça. Os militares falsificaram o atestado de óbito. Primeiro alegando suicídio na cela, depois com a versão publicada nos jornais, de que ele tinha fugido da delegacia e sido atropelado. Além disso, na época, a família não conseguiu localizar o corpo que tinha sido enterrado na vala de Perus, local onde os militares costumavam enterrar corpos de pessoas assassinadas pelos torturadores.

O assassinato de Alexandre gerou uma onda de indignação entre amigos e familiares e sensibilizou o então cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, que tomou a frente para realizar uma missa em homenagem ao estudante na Catedral da Sé, desafiando as autoridades militares. Camilo falou do papel decisivo de Dom Paulo nesse episódio.

“Em vez de fazer uma missa na USP ou numa igreja próxima à universidade, à residência dele, alguma coisa assim, ele diz: 'não, vai ser na Catedral da Sé, às 18h de sexta-feira', que é a missa mais cheia, que as pessoas saem do trabalho e vão. E ele, no altar, diz que o Alexandre foi morto, que a culpa da morte dele é do Estado, que a versão de atropelamento é falsa. Então, ele faz um enfrentamento da autoridade militar, policial, na época”.

Em 1976, o Diretório Central dos Estudantes da USP, o DCE, passou a levar o nome dele. Em 2013 a família conseguiu na justiça a retificação do atestado de óbito de Alexandre Vannucchi Leme reconhecendo o assassinato executado pelos torturadores.

A história detalhada de Alexandre Vannucchi Leme, de autoria de Camilo Vannucchi, será publicada no livro “Meu nome é Alexandre Vannucchi Leme”, no segundo semestre.

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