O Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas, do Governo de São Paulo, completa um ano de funcionamento neste mês de abril com 28,8 mil atendimentos realizados na recepção de pronto atendimento. Deste total, 16 mil receberam cuidados, sendo 11,5 mil pessoas encaminhadas para tratamento de dependência química.
A triagem realizada com os que chegam pela porta de entrada do Hub, feita ao longo do período, ajuda a entender o perfil da população atendida: a média de idade é de 37 anos e 91% são homens. Mais de 84% dos pacientes que passaram por entrevista estavam em situação de rua. Os frequentadores das cenas abertas de uso representam 63%, sendo que 11% afirmam terem passado dez anos ou mais pelos fluxos.
“A avaliação ajuda a identificar quadros que precisam de atendimento emergencial. Aproveitamos esse momento para traçar um perfil epidemiológico do indivíduo. Isso nos ajuda a identificar o perfil dos pacientes e a nos organizar de acordo com suas reais necessidades”, explica Quirino Cordeiro, médico psiquiatra e diretor do Hub.
Região central e cenas abertas de uso
O levantamento aponta que 73% dos pacientes frequentavam a região central de São Paulo no momento em que procuraram ajuda no Hub. Um deles é Robson Gonçalves de Mello, 50 anos. Em junho do ano passado, após passar por consulta e acolhimento, ele foi encaminhado à Unidade Recomeço Helvetia URH, equipamento também ligado ao Governo do Estado. Desde então, ele está na moradia assistida no local e voltou a trabalhar.
“Estava entregue ao uso de crack no dia que vim para o Hub, durante uma madrugada. Fui bem acolhido e comecei minha caminhada. A atenção que recebi aqui, não tive em outro lugar. Me sinto privilegiado e estou confiante em continuar nesse processo”, relata.
Perfil do consumo
Em relação ao consumo, destacam-se a cocaína (78,5%), o crack (77,5%) e a maconha (81,3%). Rogério Santos, 55 anos, foi direcionado ao tratamento de dependência química em junho de 2023, após passar pelo Hub de Cuidados. Ele é um exemplo da prevalência dessas três substâncias entre os pacientes.
Após ficar por anos nas ruas na dependência de crack, maconha e álcool, foi encaminhado para a Casa Terapêutica da Secretaria de Desenvolvimento Social do Governo de São Paulo na capital paulista. “Passei por muitos perigos. É uma vida que não compensa”, diz.
Após sete meses de tratamento, Rogério alugou uma moradia e quer terminar os estudos. “Só tenho a agradecer ao Governo de SP, desde o tratamento que recebi no Hub até a Casa Terapêutica. Recebi tudo o que precisei para sair dessa situação. Quero montar minha própria loja em breve”, planeja.
Além das três drogas citadas, 38% dos pacientes entrevistados no Hub relataram uso dos canabinóides sintéticos, conhecidos como drogas K, cujo consumo pode causar efeitos mais graves. Enquanto mais de 14% dos usuários de drogas K afirmaram sofrer de alucinações ou delírios, apenas 0,5% dos demais pacientes relatam o mesmo.
Álcool
Outro dado que se destaca é o de consumo de álcool: 85% afirmam beber regularmente e 79% têm indicação de alcoolismo. O diretor do Hub de Cuidados, Quintino Cordeiro, explica que o alcoolismo neste contexto também está associado ao crack, formando um ciclo de consumo.
“Quando usam o crack, ficam com um quadro de agitação psicomotora grande. Para reduzir, se valem do uso do álcool. Quando começam a ficar mais sedados, voltam a usar o crack, ficam mais excitados e retornam a usar álcool. Entram em um ciclo quase interminável de uso dessas substâncias”, explica o médico.
Como funciona o Hub
Situado na região da Estação da Luz, no centro de São Paulo, o Hub serve como porta de entrada de urgência e emergência para pessoas que apresentam quadros agudos de dependência química, atendendo prioritariamente usuários das cenas abertas. Eles passam por uma avaliação clínica multidisciplinar e, quando necessário, são encaminhados para um tratamento individualizado, de acordo com o perfil de cada usuário. Os encaminhamentos são para hospitais especializados, outros tipos de unidades de saúde e comunidades terapêuticas.
O Hub ainda oferece acompanhamento de atenção psicossocial para pacientes que já passaram pelo período de internação. Com quadros mais estabilizados de dependência química, o objetivo é auxiliar no processo de reinserção social.
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