Um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil e no mundo, o acidente vascular cerebral (AVC) tem taxas relevantes de morbidade e mortalidade. Essa preocupante realidade foi tema da audiência pública da Comissão de Educação e Cultura (CE), nesta quinta-feira (14), promovida para instruir projeto de lei que institui 29 de outubro como o dia nacional de prevenção à doença.
O requerimento foi apresentado pelo relator do PL 3.533/2021 , senador Nelsinho Trad (PSD/MS), que presidiu a audiência pública. Para o parlamentar, que é médico, essa é uma oportunidade de favorecer ações que busquem melhorar a prevenção e o tratamento do AVC.
— Instituir o dia 29 de outubro como o dia nacional de prevenção ao AVC é pertinente, oportuno, justo e meritório. Esse projeto tem como principal objetivo estimular ações educativas de informação e conscientização, a fim de ampliar o conhecimento da população sobre o AVC, a identificação de seus sinais e controle dos seus fatores de risco — disse Nelsinho.
O senador destacou a participação da sociedade na audiência, por meio do e-Cidadania, com questionamentos de como o projeto auxiliaria o processo de educação e prevenção; quais os mitos comuns sobre o AVC que precisam ser desmitificados e se há ação específica de monitoramento para os hipertensos.
Dados da Rede Brasil AVC apontam que somente no primeiro semestre de 2022, o acidente vascular cerebral vitimou cerca de 50 mil pessoas no Brasil. Coordenadora-geral de Atenção Hospitalar (Dahu/Saes), do Ministério da Saúde, Iris Vinha afirmou que o órgão apoia a proposta de lei.
— Este dia nacional e esse projeto trazem a oportunidade de juntos, como sociedade, ministério, e demais instituições, fazermos uma campanha nacional — expôs Iris.
Com base nos dados do Sistema de Internações Hospitales/DataSUS, o Conselho Federal de Medicina (CFM) analisou os números da doença no Brasil entre 2014 e 2023. Nesse período, houve pouco mais de 2 milhões de internações, com aumento de 28% entre o primeiro e o último anos avaliados.
— Dentre as regiões, o maior crescimento proporcional foi registrado no Sudeste. (...) Houve 321.301 altas por óbito. De cada seis pacientes internados, um evoluiu para óbito — afirmou o primeiro-secretário do CFM, Hideraldo Luis Souza Cabeça.
Entre 2017/2018, o CFM também promoveu pesquisa junto aos especialistas (341), entre eles neurologistas e neurocirurgiões. A percepção dos participantes sobre a infraestrutura do serviço público onde atuam no atendimento ao AVC é, para 39%, pouco adequada e para 37% inadequada. Ainda, sobre os recursos humanos do serviço, 44% dos médicos disseram ser pouco adequados e 28%, inadequados.
Segundo Cabeça, a avaliação dos participantes sobre a infraestrutura geral do serviço público no atendimento ao AVC agudo é de 27% ruim, 25,7% péssimo e 21,6% regular. Quanto à efetividade, 24,5% dizem ser péssima, 22,4%, regular, e 22%, ruim.
— O CFM sempre se debruçou sobre este tema justamente pela enorme mortalidade — completou o primeiro-secretário do Conselho.
Presidente da Rede Brasil AVC, Sheila Cristina Martins destacou que a atenção básica é fundamental para o atendimento precoce. Ela apontou que os principais fatores para a ocorrência da doença são pressão alta, sedentarismo, colesterol elevado, dieta não saudável, estresse, álcool, fatores que se tratados podem diminuir em 90% os casos de AVC.
— Gostaríamos de ter uma oportunidade de termos uma campanha no dia mundial da AVC [também no dia 29 de outubro], com alerta da população e alerta de que AVC tem tratamento — afirmou.
Coordenadora do Departamento Científico de Doenças Cerebrovasculares da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Maramélia Araújo de Miranda Alves afirmou que, desde 2019, o AVC é a primeira causa de morte no país e uma das mais impactantes para o retorno ao trabalho.
Para a doença existem a prevenção primária, antes de acontecer; a prevenção secundária, depois que acontece; o diagnóstico e o tratamento.
— Não é uma doença de fácil manejo porque envolve todo um fluxo atendimento. (...) Para o AVC, diferentemente do infarto, precisamos ter uma tomografia para o diagnóstico correto. Por isso, é preciso saber identificar o AVC e quanto mais rápido o tratamento, menores as sequelas — disse Maramélia. Ela destacou ainda o importante desafio diante do financiamento do SUS, onde “os valores estão extremamente defasados”.
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