Servidores da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) finalizaram nesta sexta-feira (28/7) a formação sobre populações vulneráveis, realizada na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Brasília. Com início em maio, o curso durou 12 semanas e teve por objetivo formar multiplicadores para trabalhar o tema nas unidades de atenção primária.
O projeto surgiu a partir de visitas e entrevistas com profissionais da ponta para entender o que poderia ser feito em relação à educação permanente e, assim, ampliar o acesso nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) às populações vulneráveis.
“É preciso que o profissional da Saúde ouça e se abra para conhecer sem julgar. Quando atendemos um indígena ou um migrante, de uma outra condição social, os valores, os princípios e as crenças são diferentes e é necessário que a gente respeite isso para fazer uma aliança terapêutica efetiva.Carmen Santana, médica
Consultora na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a médica Carmen Santana ficou à frente do curso e das visitas de campo para o diagnóstico. “Os profissionais estão focados nos aspectos biomédicos do cuidado, sem se dar conta da dimensão social e cultural deste processo. Muitas vezes, eles desconhecem as vulnerabilidades e as potencialidades no território em que trabalham”, avalia.
Santana ressalta, ainda, a importância da escuta ativa e acolhedora ao paciente. “É preciso que o profissional da Saúde ouça e se abra para conhecer sem julgar. Quando atendemos um indígena ou um migrante, de uma outra condição social, os valores, os princípios e as crenças são diferentes e é necessário que a gente respeite isso para fazer uma aliança terapêutica efetiva.”
Para a gerente de Atenção à Saúde de Populações em Situação Vulnerável e Programas Especiais (GASPVP), da Coordenação de Atenção Primária à Saúde (Coaps), Juliana Soares, o curso possibilita um foco maior no paciente. “Trata-se de uma mudança na lógica de só se pensar em cursos relacionados a cuidados específicos de doenças e cuidarmos da pessoa considerando seu contexto cultural e familiar. É uma proposta inovadora da Secretaria de Saúde para que a gente consiga, de fato, trabalhar mais a competência e a humildade cultural relacionada ao trato com com a população”, destaca ela, que tem a intenção de reproduzir a formação em outros espaços.
Atendimento focado
A rede pública de saúde oferece assistência específica a diversas populações vulneráveis como indígenas, migrantes, pessoas em situação de rua, adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, beneficiários do programa federal Bolsa Família que vivem em extrema vulnerabilidade social, entre outras.
Diante dessa realidade diversa, o curso busca elaborar metodologias que possam ser aplicadas na atenção primária, porta de entrada a populações vulneráveis no Sistema Único de Saúde (SUS). “A ideia é que, a partir desse material construído junto aos servidores das sete regiões de saúde, a gente consiga criar um curso robusto para toda a rede de atenção primária e, quem sabe, evoluir para os outros níveis de atenção”, explica a também participante do curso Jéssica Duarte, da GASPVP.
A chefe do Núcleo de Educação Permanente em Saúde da Região Central da SES, Graziane Izidoro Ferreira, acredita que a ampliação do acesso aos serviços de saúde é capaz de transformar a vida de muitas pessoas em situação de vulnerabilidade. Professora universitária, Ferreira pretende implementar na grade os conceitos que aprendeu no curso: “Esse ensino é fundamental para que os alunos possam, em seu processo de formação, chegar em campo com uma visão diferente no tratamento a essas populações.”
A médica da família e comunidade Patrícia Belém Parreira tem trabalhado na formatação de uma equipe de consultório na rua da região Centro-Sul. “O curso veio numa boa hora. E o mais importante é a gente ver essas ferramentas, se reconhecer dentro do processo e levar esses conceitos às equipes para melhorar o acolhimento, o acesso e o atendimento de populações vulneráveis.”
Atenção primária em números
? 43 UBSs cobrem um território com a presença de população rural (34 UBS localizadas em território rural e 9 UBS urbanas, mas que atendem população rural)
? 7 UBSs cobrem comunidades indígenas
? 5 equipes de consultório na rua
? 15 UBSs são referências para atendimento de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa
*Com informações da Secretaria de Saúde
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