Quase dois anos se passaram desde que Rosana Silva, de 47 anos, encontrou no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) II do Riacho Fundo a transformação por meio do artesanato. Em junho de 2021, ainda em meio à pandemia, a moradora do Gama foi acolhida pela unidade, onde conheceu a Oficina de Mosaico e aprendeu a trabalhar com malha, cerâmica, vidro e pastilhas. “A ansiedade melhora bastante, porque a gente começa a focar na peça. Todo o processo construtivo de pegar e juntar os caquinhos me traz mais lucidez e me ajuda a organizar melhor as ideias”, relata.
Para oficializar e impulsionar o trabalho de Rosana e de outros 24 alunos da oficina, o Caps II do Riacho Fundo, em parceria com a Secretaria de Turismo (Setur) do Distrito Federal, solicitou a Carteira Nacional do Artesão.
O órgão ou a instituição que queira solicitar a carteira, deve reunir, no mínimo, 25 pessoas interessadas na aquisição do documento. É necessário enviar um e-mail para artesanato@setur.df.gov.br e formalizar o pedido com informações sobre o projeto
“O mosaico, além de ser terapêutico, faz com que o paciente consiga gerar uma renda, porque é uma arte cara, demorada e muito valorizada. Por meio da carteira, ele pode se profissionalizar e participar de feiras, por exemplo”, explica a técnica em enfermagem e coordenadora da oficina, Cássia Maria da Silva.
A confecção da carteira exige documentação específica, incluindo formulário com dados pessoais, cópias do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), cédula de identidade (RG) e comprovante de residência. Além disso, é preciso apresentar fotos dos artesanatos e enviar um vídeo de até três minutos demonstrando a produção das peças. Todo o processo é lançado no Programa do Artesanato Brasileiro (PAB) e o documento fica pronto em até 30 dias, com validade por seis anos. A entrega é feita no próprio Caps II.
A renovação da carteira requer a repetição do processo documental. O interessado pode comparecer à sede (térreo do Espaço de Cultura e Artesanato, na W3 Sul, Quadra 507, Bloco C – entrada pela W2), que oferece atendimento de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h.
Geração de renda
Com mais de 35 peças produzidas, Rosana se prepara para receber o documento, enxergando nessa conquista uma oportunidade para crescer. “Estou animada, pois pretendo comercializar minhas peças em algumas feiras que ocorrem aqui e no Gama.”
A Carteira Nacional do Artesão possui registro junto à Setur e busca facilitar a venda dos produtos em feiras de artesanatos e em eventos locais e nacionais. Os membros da Oficina de Mosaico poderão ainda participar de editais públicos para a comercialização de suas peças em shoppings, sem precisar pagar Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). “Com a carteira, o artesão não pagará imposto ao emitir uma nota fiscal avulsa, por exemplo”, explica a coordenadora de artesanato da Setur, Gizelma Fernandes.
O morador do Riacho Fundo II Wilton Albuquerque, 35 anos, participa da oficina há um ano e meio e já produziu sete peças. Sua participação no artesanato vai além do Caps II. “Eu comercializo algumas peças na rua, como mosaico e pinturas em tela, e já fiz exposições dentro e fora do centro”, conta. Empolgado com o potencial de sua arte, Wilton também solicitou o documento. “Tenho alguns amigos que fazem exposição no Eixão. A carteira vai facilitar o meu ingresso nesse trabalho com eles”, completa.
O órgão ou a instituição que queira solicitar a carteira, deve reunir, no mínimo, 25 pessoas interessadas na aquisição do documento. É necessário enviar um e-mail para artesanato@setur.df.gov.bre formalizar o pedido com informações sobre o projeto. Segundo Fernandes, as peças precisam ter qualidade: “Não basta apenas participar do curso. A pessoa deve ter a capacidade de elaborar um produto bonito, de excelência. Cumprindo esses requisitos, agendamos uma data para realizar o atendimento”.
Experiência de 17 anos
Fundada em 2006, a Oficina de Mosaico já atendeu mais de 1.500 pacientes que, junto ao tratamento, tornaram-se artesãos ao longo desses 17 anos. Hoje, a oficina possui 25 alunos ativos, coordenados pelas servidoras do Caps II do Riacho Fundo Cássia Maria da Silva Garcia e Maria Angélica Raguzzoni. Além do mosaico elaborado com restos de ferramentas, vidros, cerâmicas, madeiras, botões e até casca de ovo, os participantes aprendem a técnica da boneca Abayomi. Ela é feita com pedaços de malha, sem costura alguma, apenas nós ou tranças.
Cássia destaca que os usuários experimentam diversas melhorias durante o tratamento. “Observamos avanços na coordenação motora e no reconhecimento geométrico das peças e até casos em que pacientes decidiram retornar à escola por perceberem a importância da educação em suas vidas.” Além desses aspectos, a coordenadora menciona que há ainda um aumento na autoestima. “Ao longo do processo, eles saem com um sentimento de empoderamento e de orgulho pelas suas produções artísticas.”
A oficina ocorre toda terça-feira, das 14h às 17h, e às sextas-feiras, de forma quinzenal, das 9h às 12h. Ela é voltada aos pacientes atendidos pelo Caps II do Riacho Fundo, que acolhe usuários da Região Centro-Sul de Saúde – que abrange Gama, Santa Maria, Riacho Fundo, Riacho Fundo II, Estrutural, Candangolândia, Guará, Guará II, Núcleo Bandeirante, Park Way e Vargem Bonita.
O centro recebe demandas espontâneas de pessoas a partir de 18 anos que apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes. Não há necessidade de agendamento prévio para o acolhimento e o paciente é atendido por uma equipe multiprofissional que fará a avaliação e o encaminhamento mais indicado ao perfil.
O Caps II do Riacho Fundo está localizado na Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB), Quilômetro 4, Área Especial s/n, Avenida Sucupira, Granja do Riacho Fundo e funciona de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 11h e das 13h30 às 17h.
*Com informações da Secretaria de Saúde
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