Em celebração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado nesta terça-feira(25), foi realizada em São Paulo a oitava edição da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo. O evento reuniu centenas de mulheres e teve início na Praça da República, no centro da capital, com intervenções culturais e políticas. O grupo caminhou até oTheatro Municipal.
“A Marcha das Mulheres Negras de São Paulo está fazendo a sua oitava edição. Começamos [o evento] quando mulheres negras foram para Brasília, em 2015, para falar da importância do manifesto da luta contra o machismo, o racismo, a violência e pelo bem viver, pautando um novo marco civilizatório para o Brasil. Desde então, aqui em São Paulo, todos os anos a gente faz, no dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, essa manifestação”, disse Simone Nascimento, integrante da marcha.
Uma das organizadoras do evento, Juliana Gonçalves explica que ahistória da Marcha das Mulheres Negras de São Paulodiz que os assassinatos da vereadora Marielle Franco , em 2018, e de Luana Barbosa , 2016 impulsiona estas mulheres a irem às ruas. “Nós já tínhamos marchado em 2015, na grande marcha nacional, e, em 2016, a gente entendeu que não dava para deixar de ocupar as ruas”, explicou.
“A gente ocupa as ruas com as nossas reivindicações,trazendo as nossas denúncias, mas mais do que isso: a gente está apresentando um novo projeto de sociedade para o Brasil, não só para o estado de São Paulo”, dizJuliana.
Neste ano, a Marcha escolheu como tema Mulheres Negras em Marcha por um Brasil com Democracia! Sem Racismo! Sem Violências! Sem Anistia para os Fascistas! Justiça por Marielle Franco e Luana Barbosa! Por nós, por todas nós, pelo Bem Viver!
“Neste ano, [a marcha] pede reparação e bem viver. A pauta da reparação ajuda a resolver muitas coisas, porque vai falar desde a questão do acesso à terra, acesso a comida e chegando nesse lugar do limite da vida. Hoje a gente enfrenta números muito altos de feminicídio. A mesma coisa com o genocídio do povo negro, a mesma coisa com o encarceramento. A gente vê que são várias estratégias para ainda dizimar a nossa vida. E é por isso que a gente marcha pelo bem viver, porque a gente quer a vida, a vida em abundância e com direitos, que precisam ser respeitados”, explicaJuliana.
“A Marcha das Mulheres Negras, neste ano, fala da importância da gente construir a democracia para as mulheres negras e combater a fome, o genocídio, a morte, o desemprego. E fala também da importância de se fazer justiça por pessoas que nós perdemos nesse período de recrudescimento no país como a Marielle Franco, mas também da Luana Barbosa”, disse Simone. “No Brasil, a nossa forma de lembrar desse legado é lembrar dos que lutaram pela nossa liberdade”, acrescentou.
Segundo Regina Lúcia dos Santos, coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado (MNU), a marcha vai ser encerrada no Theatro Municipal, local onde o MNU surgiu, em 1978. “O MNU está completando 45 anos. E a Marcha de São Paulo, oito anos. A Marcha reverencia nossa história, que nasceu em um tempo [regime militar] em que era difícil - difícil não, em que era proibido - falar da questão racial no Brasil”, disseem entrevista àEBC.
Para Regina, nos dias atuais, a Marcha continua mostrando sua resistência.
“Este é o segundo ano da marcha depois da pandemia. E ela continua sendo importanteporque nós, mulheres negras,somos a base da pirâmide econômica e vítimas do maior número de feminicídios, de violência obstétrica e de violência sexual de todos os gêneros. Então é da maior importância hoje poder dizer: eu marcho, eu resisto e eu luto”.
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi instituído em 1992 pela Organização das Nações Unidas, durante o Primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana. No Brasil, essa data também celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela, uma data em homenagem à líder quilombola que resistiu à escravidão.
“A gente resgata o nome dela, inclusive porque as mulheres negras foram muito apagadas durante o período histórico e a gente sabe que muitas lideranças são apagadas cotidianamente. Então sempre tentamos trazer o nome dessas lideranças pra marcha”, disse a co-deputada estadual pelo Movimento Pretas, Ana Laura Cardoso Oliveira.
“O Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha tem a ver com a luta de várias mulheres negras na América Latina que se reuniram pra reivindicar o seu direito de serem mulheres porque a luta feminista ainda exclui muitas mulheres negras desse espaço. Então,as mulheres negras se encontraram e colocaram também a sua voz para que o feminismo negro pudesse existir”, acrescentou a deputada.
Em suas redes sociais, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, lembrou da data falou sobre a assinatura de um memorando de entendimento entre Brasil e Colômbia para promoção da Igualdade Racial. O acordo prevêintercâmbios, ações para povos tradicionais e produção acadêmica e científica.
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Anielle Franco (@aniellefranco)
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também lembrou da data em suas redes sociais. “Um bom dia especial. Começamos o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha num café da manhã com jornalistas negras aqui em Brasília. Um encontro que traz toda a potência das mulheres negras e nos inspira na luta pelo fortalecimento da democracia”.
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