A Petrobras intensificou a política contra crimes de assédio praticados por empregados e contratados da companhia. O presidente da empresa Jean Paul Prates afirmou que o tema não está restrito a grupos de mulheres e atualmente está no DNA da empresa. Segundo ele, ao visitar as bases como as refinarias e áreas de operação da companhia há empregados que se emocionam por causa da forma como o problema vem sendo tratado.
Na visão dele, estava instaurado na companhia um clima muito tenso de cobrança pelo resultado e de assédio moral absolutamente explícito, com o assédio sexual tolerado, escondido e escamoteado. “Essa empresa não é uma empresa de homens que tem lá um departamento, não, todos todas e estão incluídos nesta nova gestão”, disse durante um café da manhã com jornalistas que se estendeu até 12h.
Prates destacou que se a progressividade na solução não é tão rápida como se pode esperar, é porque o setor do petróleo teve em passado recente, barreiras quase intransponíveis.
“Pessoas não colocavam mulheres em plataformas, as pessoas não colocavam mulheres em refinarias, não havia instalações para essas pessoas trabalharem ali. Isso é uma evolução nossa. Nós queremos acelerar o processo, abrir mesmo no bom sentido a caixa de pandora. Deixar as denúncias que tiverem que vir, investigar bem”.
“Isso [o assédio] estava lá e só era visto pelas pessoas que estavam sentindo. Elas, nesse momento, estão sofrendo um período de catarse gradual. Isso tem nos chocado a quantidade de emoção que está posta nas áreas de operação diante dessa abertura que demos e deveria ser natural, mas por alguma razão não estava sendo”, disse o presidente.
A diretora de Assuntos Corporativos, Clarice Coppetti, disse que a atual diretoria levou a discussão do assunto a todos os níveis da companhia. “Se abriu a discussão, coisas que estavam antes muito paradas em determinadas áreas, hoje gente traz essa discussão para o centro da companhia, acompanhada não só pela diretoria mas inclusive com a criação de um grupo estratégico”, contou, acrescentando, também no encontro, que ela e o diretor de Governança e Conformidade, Mário Spinelli atuam como coordenadores.
“Estruturamos uma área de estratégia para avaliar, acompanhar e gerar políticas das chamadas violências dentro do trabalho, na área de responsabilidade social”, explicou.
O trabalho começou com a discussão com todas as áreas da companhia e com campanhas internas de esclarecimento, em que a base é a educação. Segundo a diretora, há locais distintos de trabalho de confinamento, refinarias com milhares de pessoas e ambientes administrativos. “O canal de denúncias foi reforçado. Isso é responsabilidade da nossa ouvidoria. Nós criamos um canal novo de acolhimento, porque muitas das vezes a vítima não está em condições de estrutura para fazer inclusive a denúncia.
Para a diretora, foi muito importante adotar todas as medidas, como ainda contar com uma área de saúde interna, considerada por ela, como altamente qualificada e capacitada. O processo de apuração também foi alterado e o prazo de 180 dias para o andamento da apuração da denúncia foi reduzido para 30 dias. Dependendo da complexidade pode ser prorrogar por mais 30.
Outra ação apontada por Clarice Coppetti foi a permissão para a vítima saber como está o andamento do processo. “Hoje a vítima pode acompanhar o processo, uma coisa absolutamente distinta do que havia anteriormente, quando ela fazia a denúncia e não sabia como estava andando dentro dessa estrutura da empresa. Dar a possibilidade da vítima ou a um advogado de sua confiança acompanhar esse processo, também, foi uma medida inovadora que a gente tratou dentro da empresa.”, afirmou, destacando que este é um assunto muito grave em ambientes não só corporativos e que dentro da Petrobras a questão vem sendo tratada cotidianamente “Isso não é um tema estigmatizado, isso não é um tema tabu dentro da companhia. Isso está no nosso radar”, completou.
Conforme o diretor Spinelli, ter um canal de acolhimento para dar o primeiro tratamento a vítima fragilizada é fundamental, mas o mais importante é colocar o assunto na roda de debates permanentes da empresa. “Hoje em todos os eventos, a alta administração deixa muito clara a mensagem de que não vamos tolerar nenhuma forma de assédio na companhia. Acho que esse é o primeiro ponto para todos os empregados, se estende aos contratados da Petrobras. Essa mensagem a gente considera absolutamente fundamental”.
A diretora afirmou que para analisar a questão e enfrentar os casos de assédio, o trabalho começou com base nas estatísticas até 2022. Por esses dados, havia 81 denúncias, e dessas, 10 foram comprovadas. Ocorreram ainda 5 demissões de pessoas que praticaram crimes de assédios. A dificuldade de comprovação foi atenuada com a consulta de grupos dentro da empresa e das próprias vítimas, além de poder contar com um maior número de câmeras que foram instaladas dentro de áreas necessárias. “A partir do momento essa discussão destampa isso e tira do limbo em que a discussão estava e que reforça os canais, obviamente que as vítimas se sentem muito mais seguras e em condições de fazer as denúncias e é natural um aumento das denúncias”, contou.
A diretora informou também que com a autorização do governo federal para o preenchimento de 3.026 vagas no serviço público federal, a Petrobras vai fazer um concurso para 450 vagas em nível técnico. “Foi divulgado ontem pela ministra Esther [ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos] e a gente tem também autorização para realização de um novo concurso para provimento de nível técnico. Cerca de mais de 450 vagas. Isso é necessário porque a companhia está investindo em novos negócios, ela está crescendo e ampliando os negócios e se amplia negócios com pessoas com qualificação, com saúde, com serviços. A gente não tem a possibilidade de não oxigenar a força de trabalho da companhia”, informou.
Clarice Coppetti afirmou que havia um cadastro de concurso anterior de nível superior, que segundo ela estava imobilizado, e ao ser reativado a empresa chamou mais de 700 profissionais. Foram chamados outros concursados de nível técnico e além disso foi realizado concurso de nível técnico este ano. “A nossa previsão é entrada de cerca de 2 mil novos trabalhadores e trabalhadoras na Petrobras. Claro que a gente tem PDIs, Planos de Demissão Incentivada que já estavam sendo realizados e tem um conjunto significativo de trabalhadores que estão saindo por conta desses PDIs e um conjunto grande de trabalhadores e trabalhadoras que estão saindo mesmo por conta do tempo de possível aposentadoria”.
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