O uso de recursos tecnológicos aplicados ao atendimento pediátrico marcou o quarto dia do Congresso Internacional da Criança com Condições Complexas de Saúde. Os participantes da mesa-redondaTecnologias e a Curacompartilharam, nesta quinta-feira (27), experiências vividas nas instituições onde atuam.
O médico Jorge Bezerra, do Cincinatti Children’s Hospital Medical Center (Ohio, EUA), iniciou a programação vespertina com uma palestra sobre organoides humanos em sistemas modelo. O especialista explicou que os organoides – espécie de minitecidos humanos obtidos de forma laboratorial – “podem ser usados para estudar doenças complexas, medir a toxicidade do tratamento e fazer uma medicina individualizada”.
O médico Roque Carmona apresentou as iniciativas do Hospital Sant Joan de Déu, de Barcelona, no tratamento da diabetes tipo 1. Acompanhando mais de 700 crianças e adolescentes com a doença, o hospital espanhol criou uma plataforma para monitorar os dados dos pacientes. O algoritmo orienta a equipe quanto à conduta que precisa ser adotada para cada criança, indicando quais precisam ser atendidas a distância e quais precisam de uma consulta emergencial.
Carmona explicou que a implementação da plataforma exigiu bastante, tanto da equipe clínica quanto do setor de tecnologia da informação, mas que os resultados foram positivos: “Reduzimos os custos médicos, o número de consultas ao vivo e as visitas à emergência”.
Exames tradicionalmente vistos em escala de cinza, por exemplo, podem ser beneficiados pela inteligência artificial para que os resultados, ao se tornarem coloridos, facilitem a identificação de lesões
Também do Hospital Sant Joan de Déu, o radiologista Josep Munuera falou sobre como “as imagens são um componente chave na medicina personalizada”. Ele apresentou o trabalho do hospital espanhol na criação de um banco de imagens médicas que permite a análise quantitativa de dados, trazendo impacto positivo para os tratamentos. Munuera explicou como as novas tecnologias podem ajudar os profissionais de saúde: exames tradicionalmente vistos em escala de cinza, por exemplo, podem ser beneficiados pela inteligência artificial para que os resultados, ao se tornarem coloridos, facilitem a identificação de lesões.
As experiências do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) também foram apresentadas. O biólogo Ricardo Camargo, supervisor do Laboratório de Pesquisa Translacional do HCB, expôs casos clínicos e falou sobre as tecnologias de ponta usadas pelo hospital, que faz exames de diagnóstico de leucemia em nível molecular.
Ele explicou que o HCB caminha para a medicina de precisão, buscando novas metodologias. “Rumo ao sequenciamento de genes de nova geração, buscamos para nosso laboratório de pesquisa métodos que permitem fluidez”, afirmou. A modernização não implica, porém, abandonar métodos anteriores, explicou: “Cariótipo e PCR ainda são utilizados. Utilizamos essas metodologias que são mais tradicionais e acessíveis e ainda resolvem bastante coisa”.
A oncologista do HCB Simone Franco apresentou o histórico dos transplantes de medula óssea realizados pelo hospital: de 2019 a 2022, foram 56 transplantes com medula retirada da própria criança. Em 2022, ano em que o hospital iniciou os transplantes com medula de doador, foram realizados 19 transplantes em que a doação foi feita por parentes do paciente.
Durante a mesa-redonda, a imunologista do HCB Fabíola Scancetti ressaltou a trajetória da equipe – que, além do tratamento individualizado, tem grande dedicação ao ensino e à pesquisa – e destacou que os profissionais envolvidos no atendimento configuram “tecnologias poderosas” a serviço das crianças. “Quando associamos o cuidado central no paciente com a atenção interdisciplinar, temos uma receita para o sucesso”, disse.
A médica Irene Kazue Miura, do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, abordou os desafios no cuidado de crianças submetidas a transplantes hepáticos. Com casos clínicos e estatísticas, ela explicitou intercorrências pelas quais os pacientes podem passar. “A cirurgia, em si, é a ponta do iceberg. Tem uma gama de complicações que podem acontecer”, alertou.
Composta principalmente por médicos, a mesa-redonda teve ainda uma abordagem da tecnologia sob o ponto de vista de um usuário dos serviços de saúde. Jac Fressato, fundador do Instituto Laura, contou como a experiência com questões de saúde da própria filha o inspirou a criar a robô Laura, primeira plataforma de inteligência artificial gerenciadora de risco do mundo.
“Decidi pegar o conhecimento que eu tinha das artes de informática e de processos e entender como revisitar processos tradicionais para reduzir a fila dos que não precisam da atenção de alta complexidade”, relatou. Com esse ponto de partida, ele aliou a inteligência artificial à escala de risco de diferentes hospitais, criando um algoritmo que chama a atenção para pacientes que estejam entrando na curva de risco.
*Com informações do HCB