Com apenas 20 anos e vítima constante do medo, Ahli (nome fictício) desde cedo foi obrigado a testemunhar cenas terríveis de guerra e conviveu com a opressão. Ele não encontrou outra forma de sobreviver senão fugir. O jovem nasceu no Afeganistão, e aos 7 anos foi morar no Irã. Além da violência por causa dos confrontos entre o Talibã e os Estados Unidos no país de origem, também teve que enfrentar a intolerância religiosa e cultural após essa primeira mudança.
Mais de uma década depois, ao tomar conhecimento da política de vistos humanitários do Brasil, solicitou o benefício e foi contemplado. Em novembro de 2023, saiu do Irã, desembarcou no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP), acompanhado de seus dois irmãos e foi atendido em um dos serviços oferecidos pelo Governo de SP para o acolhimento de refugiados. “Estou muito satisfeito com o serviço da Casa de Passagem Terra Nova. Nós somos muito bem tratados, com respeito e liberdade. A comida é muito boa, aprendemos a língua portuguesa e nos ajudam a encontrar emprego. O Governo de SP se preocupa conosco”, diz o jovem migrante.
Ahli está esperando uma oportunidade para morar nos Estados Unidos, onde tem outros dois irmãos que já vivem lá. Enquanto isso não acontece, procura apreciar e aprender um pouco mais sobre o Brasil através do circuito cultural de São Paulo. “Eu adoro ir à Pinacoteca, sempre terei ótimas lembranças”, finaliza Ahli, com entusiasmo.
A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social conta com oito Repúblicas e duas Casas de Passagem para o acolhimento de migrantes, refugiados e vítimas de tráfico humano. Ao todo são cerca de 200 vagas rotativas, e a média de permanência no serviço é de 3 meses, tempo que pode ser prorrogado por mais 3 meses, dependendo da necessidade. Os encaminhamentos são feitos pelo Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante, localizado no Aeroporto Internacional de Cumbica e gerido pela prefeitura de Guarulhos.
“Mais do que oferecer todas as condições de moradia e alimentação, procuramos acolher os migrantes da melhor forma através de uma equipe multidisciplinar para garantir que todos eles sejam respeitados, independentemente de cultura e religião. Orientamos na emissão de documentos, cadastro no CadÚnico para inclusão em programas sociais; ensinamos a língua portuguesa e encaminhamos para o mercado de trabalho”, contou Dayane de Morais, coordenadora de uma das Casas de Passagem localizada na capital paulista.
Outro morador da Casa, Ahmad (nome fictício) também é afegão e chegou no país há dois meses e meio. Professor de línguas no Afeganistão, ele, ao contrário da grande maioria dos refugiados afegãos, escolheu o Brasil para morar. Em pouco tempo já está falando bem o português, graças aos professores que encontrou na Casa de Passagem e à sua dedicação em aprender nosso idioma “Descobri que São Paulo é uma terra de grandes oportunidades e que aproveita nossas habilidades. Decidi ficar e trabalhar ensinando idiomas, já que aqui na capital vivem pessoas de todos os lugares do mundo”, relata Ahmad.
A forma como é tratado no espaço, com respeito e carinho, faz com que ele se sinta em casa. Ahmad está focado em se tornar fluente no português para começar a trabalhar e conquistar autonomia para viver na capital. “Eu agradeço muito o trabalho do Governo de SP por nos dar todas as condições de termos nossas vidas de volta”, finaliza.
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